- Giovanni Alves
- 5 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de fev. de 2023
Este video é um registro documental das condições de trabalho dos servidores públicos do Poder Judiciário do Estado de Alagoas. Foi filmado de 8 a 11 de fevereiro de 2011 nas cidades de Santa do Ipanema, Arapiraca e Macéio, sendo editado e produzido em março de 2011, pouco antes da minha ida para o pós-doutorado em Portugal na Universidade de Coimbra. Tive o apoio técnico de Thayse Palmela.
O video fez parte da pesquisa intitulada "Trabalho, Saúde e Qualidade de Vida dos Trabalhadores públicos do Judiciário Estadual de Alagoas", financiada pelo SERJAL (o Sindicato do Judiciário de Alagoas).
Foi uma proposta inovadora (projeto de pesquisa-ação audiovisual.!). Não se fez apenas a pesquisa sociológica propriamente dita com a aplicação de Questionário, mas se produziu um video-documentário utilizado para uma reflexão da categoria sobre sua condições de proletariedade.
A função do video foi criar um campo de reflexão/formação por meio da Imagem (de si) da categoria. Tanto a pesquisa, como o video, foram lançados num Encontro Estadual organizado pelo Sindicato em março de 2011. Depois da apresentação do material escrito e do material audiovisual, tivemos o debate.
O tempo de produção do video-documentário e da elaboração do relatório de pesquisa foi recorde: fizemos a pesquisa em pouco mais de 40 dias (incluindo a coleta de depoimentos em video e a aplicação de questionários nas cidades de Santana do Ipanema, Arapiraca e Macéio; a edição do video-documentário, a tabulação e a análise dos dados do questionário). Tal "ligeireza" - é claro - fez com que o video ficasse aquém - tecnicamente - do que poderia ter sido, caso houvesse mais cuidado no processo de filmagem (as tomadas) e de edição (os cortes e entrada da trilha musical).
Entretanto, o conteúdo em si, do material audiovisual foi satisfatório para expor aspectos importantes da proletariedade dos servidores públicos do JUdiciário Estadual de Alagoas. Enfim, cumpriu sua função...
No video, só os trabalhadores e trabalhadoras falam (este é o principio do CineTrabalho)- inclusive com o depoimento final do Presidente do Sindicato.
A metodologia do Projeto Cinetrabalho diz que as pessoas-que-trabalham falem de sua situação de trabalho e de vida. É importante a expressão do gesto, da fala - e da voz - do sujeito que trabalha.
A caracteristica do video é o veidadeiro "rosário de queixas" que expressa de fato, a objetividade e subjetividade da categoria. Expõe-se a precariedade das instalações de trabalho; e principalmente, a insatisfação com o salário (a queixa maior!). É quase um exagero a fala de uma servidora do Judiciário que se compara - por exemplo - com as comerciárias do GBarbosa (supermercado de Macéio) e com escravos que vivem em Senzala (a Casa Grande é o Tribunal - lugar distante do Poder...)
Mas a trilha musical "Vida de Gado" (de Zé Ramalho) é uma extensão do "exagero sociológico" - proposital - que está contido na construção imagética do sofrimento laboral dos servidores do Judiciário alagoano nos idos de 2011. No final, num relance de imagem contrastante sob a trilha de Zé Ramalho, próximo do prédio luxuoso do Tribunal de Justiça de Macéio, o verdadeiro "gado" - invisivel - do pedinte miserável de rua.
O Presidente do Sindicato reconhece que a categoria só quer "mais salário", mesmo que isso signifique mais tempo de trabalho alienado da familia, dos amigos e de si mesmo. Isto é o drama da "vida de gado" (o "gado" da canção é o trabalhador assalariado, o "escravo" do desejo por mais salário!)..
O Brasil da superexploração do trabalho é o País do todo-poderoso fetichismo da mercadoria (dinheiro). Como diria exultante Silvio Santos: "Quem quer dinheiro?".
Mas a isso soma-se a queixa pela falta de reconhecimento e o esvaziamento das perspectivas de crescimento na carreira ("nunca vou crescer", diz uma analista judiciária).
Enfim, o video é antes de tudo, uma peça sociológica. Deve ser assistido como tal.
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