- Giovanni Alves
- 5 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de fev. de 2023
O documentário "Precários Inflexiveis" foi filmado durante a passeata dos trabalhadores precários em Lisboa (Portugal) em 25 de janeiro de 2012, Tive o apoio técnico de Pablo Almada e o roteiro foi elaborado por mim e Dora Fonseca. Na época, Portugal estava sob o governo de direita de Passos Coelho que aplicava a política de austeridade do FMI-União Européia. Eu estava no último mes do pós-doutorado na Universidade de Coimbra onde realizei pesquisa intitulada "A derrilição de Ícaro: Juventude e Trabalho precário no século XXI". TIve como tutor o Prof. Dr. Elísio Estanque. Foi 1 ano de muitas realizações audiovisuais - dezenas de videos experimentais e dois outros documentários ("Portugal e a Crise" e "AutoEuropa" - que comentaramos oportunamente neste blog do Projeto CineTrabalho). O documentário "Precários Inflexiveis" foi lançado no VIII Seminário do Trabalho que se realizou na Unesp (Marília) no ano de 2012.
O filme expõe o conceito de "precariado" que tenhoadotado: o precariado é a camada social da classe do proletariado altamente escolarizado, inserido em situações de trabalho precário. Portanto, o "precariado" não é outra classe social, mas sim, uma camada social da classe dos trabalhadores assalariados.
Uma vitória político-ideológica do capital foi ter "quebrado" a unidade da classe do proletariado. Estavéis e precários estão na luta - como se diz - "cada um no seu quadrado".
Outra coisa: a condição de proletariedade do precarado expõe uma das mais candentes contradições do capitalismo global: a "negação" da futuridade (ou do porvir) da juventude proletária altamente escolarizada, (de)formada (e frustrada) pelos valores do sucesso na sociedade liberal. .
A primeira imagem do filme é o cartaz: "Tirem-me deste filme".
Evidentemente foi uma coincidência. Mas os dizeres do cartaz não faziam referência ao filme que estavámos realizando, mas sim, ao "filme" do capitalismo da austeridade neoliberal.
A pergunta que percorre o documenário é "O que é ser precário?".
As respostas são muito interessantes. Uma delas diz: "Ser precário é ter um futuro continuamente hipotecado". Todas as falas merecem longos comentários pois traduzem de modo preciso o sentido da precariedade laboral.
Mas as ambições dos jovens precários não são nada revolucionárias - eles querem apenas "mais emprego" e "mais salário". Eles querem ser reconhecidos pelo Sistema. Lembro de uma faixa que li num acampamento de precários em Coimbra que dizia: "Nòs queremos o Sistema, mas o Sistema não nos quer".
Os "precários" querem ter o direito de ser explorados tendo para isso, um "trabalho decente" (como diz a OIT).
Tem uma música brasileira que considero quase um "hino do precariado": "Sonho de Ícaro", de Byafra. Prestem atenção na letra!
Os "precários inflexíveis" querem realizar apenas o sonho da carreira, familia e consumo. Eles são nóstalgicos da "sociedade salarial" - como diria Robert Castel.
As palavras de ordem nos cartazes dizem algo: "Para Todos, Tudo". Uma frase tão vazia quanto o horizonte político-ideológico da primeira geração dos "precários". Naquela época, jovens nascidos na década de 1980, iam às ruas para protestar contra a nova precariedade salarial do capitalismo neoliberal que lhes acolheu.
Nota-se a ausencia na manifestação dos sindicatos e das Centrais sindicais de Portugal. Os trabalhadores precários estão alienados da representação sindical. Mas trata-se de uma "alienação" de "mão dupla": eles não querem aproximar-se politicamente dos Sindicatos e os Sindicatos também não os quer.
A música de encerramento do documentário cantada pelos Diolinda - que na ´peoca fazia muito sucesso em Portugal - tem uma frase bastante curiosa: "Que mundo tão parvo/ que para ser escravo/ é preciso estudar". Mas, o trabalho precário não é uma parvoice, mas sim uma lei do capital global; e os precários não são escravos, mas sim trabalhadores livre assalariados.
Vejam aqui o trailer do documentário
Comments