- Giovanni Alves
- 25 de ago. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de jan.
O documentário “Galera” (de 2013) inaugurou a série de filmes dirigidos por mim a partir de materiais audiovisuais coletados pelos alunos da disciplina de Sociologia do Trabalho que ministrei na UNESP até 2022. O documentário “Galera” – diz o letreiro final – foi produzido como trabalho audiovisual da disciplina Sociologia do Trabalho sob a coordenação do Prof. Dr. Giovanni Alves que dirigiu, editou e finalizou o material audiovisual coletados pelos alunos”.
Pela metodologia CineTrabalho quem edita ganha o crédito de direção e quem coleta o material audiovisual ganha o crédito de produtor. Diz ainda o letreiro: “O Projeto CineTrabalho visa produzir documentários sobre o mundo do trabalho visando utiliza-lo como ferramenta audiovisual de reflexão crítica da sociologia do trabalho”. A produção do vídeo foi de Mateus Bortoletto Rodrigues, Arthur Gondo e Felipe Resina Campos, alunos do quarto ano de Ciências Sociais da disciplina Sociologia do Trabalho da Unesp, Campus de Marília.
Diz o letreiro de abertura:
“Concluir um curso de graduação significa muito para quem o faz, mas muitas vezes é motivo de grande angústia e ansiedade. Normalmente, a preocupação com o primeiro emprego e a realização profissional, acompanha o jovem universitário recém-formado. Quais os sonhos e expectativas de trabalho de jovens universitários que estão concluindo o curso de graduação?”.
Eis a problemática do filme e dos depoimentos de alunos e alunas do curso de ciências sociais, É a problemática do precariado que discutido tanto na década passada. Embora sejam alunos recém-formados, são projetos de assalariados precários em formação. O filme tem depoimentso de alunos e alunas dos cursos de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Biblioteconomia e Relações Internacionais e Arquivologia do Campus de Marília da Unesp.
O video exprime a metodologia CineTrabalho, onde o sujeito que trabalha, fala. Os depoimentos expressam incertezas e dúvidas sobre as perspectivas profissionais. Isso sim é a expressão da angústia do precariado, pois diz respeito a jovens recém-formados que estão entrando numa nova fase de vida - sem nenhuma garantia de realização pessoal e profissional.
Diz o letreiro sobre o significado da palavra “Galera”, o título do filme:
“Galera é um tipo de navio movido a remos, mas também significa grupos de pessoas, amigos, cambada ou turma.”
Nada mais adequado do que intitular o filme “Galera” pois o título representa aquilo que o filme mostra – grupos de pessoas, jovens recém-formados falando de suas perspectivas de realização profissional.
Mas o titulo remete a outra questão: “Galera é um tipo de navio movido a remos...”. Isto representa a alegoria da própria formação profissional: um sonho movido a remos, isto é, um sonho (de carreira profissional) movida pelo esforço individual de cada um durante anos do curso de graduação.
As perspectivas são muitas: fazer curso de especialização, bacharelado ou pós-graduação; fazer concurso público; tornar-se trainee ou adentrar o mercado de trabalho tornando-se – por exemplo, no caso dos licenciados em ciências sociais, professor de sociologia no Ensino Médio. Um dos depoentes faz a crítica do curso de ciências que só mostra a área acadêmica, deixando de lado as opções de atuação do sociólogo. Diz ele que o curso não tem a perspectiva do mercado de trabalho.
Um outro depoente – do curso de ciências sociais – afirma que é “frustrante enfrentar a realidade de ser professor da Rede Pública.” Outro afirma que não se vê como professor universitário, mas sim como professor de ensino médio. - isto é, proletário da Educação. Outra aluna – do curso de Fonoaudiologia – diz optar pela área clínica.
A aluna Vanessa tem uma fala expressiva projetando sonhar em ser professora universitária, mas vendo isso um largo percurso onde a experiencia de dar aula na escola pública é indispensável. Diz ela que precisamos ter um horizonte para caminhar.
Mas a incerteza se confunde com a perspectiva da precariedade salarial mesmo que tenho obtido o diploma de curso superior. Um aluno diz, quase sorrindo, mas com expressão quase desesperada: “Me convenci que vou ser um pobre feliz”. Esta é a fala exemplar do precariado que procurei mostrar em vários videodocumentários da década de 2010.
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