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  • Foto do escritor: Giovanni Alves
    Giovanni Alves
  • 23 de mai. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 5 de jun. de 2023


Apesar de ter sido produzido e lançado em 2013, o videodocumentário "Metalúrgicos" foi filmado em 13 de janeiro de 2008 na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. A produção do vídeo foi realizada por Renan Bandeirante de Araújo, com apoio técnico de Jorge Cavalcanti Coelho Alves. O trio de metalúrgicos, jovens militantes sindicais do SMABC, era composto por Aroaldo Oliveira, Max Pinho e Maicon Michel, operários montadores da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, SP.


O letreiro de abertura diz: "Aroaldo, Max e Maicon são jovens metalúrgicos e militantes sindicais de São Bernardo, que relatam suas experiências de vida, trajetórias pessoais de formação profissional, iniciação na militância sindical, conciliação da vida pessoal com o sindicalismo e suas perspectivas sobre a luta sindical e a juventude operária hoje".


Aroaldo, Max e Maicon são filhos de ex-metalúrgicos herdeiros da geração que participou das grandes greves do ABC paulista em 1978-1979 e 1980. Aroaldo relata a experiência de entrar na fábrica em 1997 e como foi educado pelo pai a participar desde cedo, do movimento sindical dos metalúrgicos. Apesar de pertencer à primeira geração neoliberal, aquela que se formou na década de 1990, Aroaldo herdou a experiência do coletivismo da geração do pai, que se formou na luta coletiva com as Pastorais Operárias, movimentos de bairro e sindicalismo em ascensão.


O pai de Aroaldo entrou na fábrica em 1986. Na verdade, não foi o pai que foi a figura formadora de Aroaldo, mas sim o tio, um velho sindicalista que vivenciou as grandes greves. Aroaldo se inspirou no exemplo do tio, que fazia parte da classe trabalhadora do ABC e idolatrava Lula e o PT. A transmissão geracional do ethos coletivista é muito clara na fala de Aroaldo. Apesar de ser da geração neoliberal, a posição de classe e a herança da experiência paterna (e do tio) foram marcantes para ele.


Aroaldo teve sua iniciação na vida operária ao fazer um curso no SENAI, entrar na fábrica, participar da CIPA e depois da Comissão de Fábrica. Ele fala sobre as experiências da grande demissão de 1995, quando a Mercedes-Benz demitiu 1.300 operários. Esse fato histórico está na memória de Aroaldo, que nos relata como sendo um cataclisma da natureza do capitalismo, caracterizado pelas frequentes reestruturações produtivas. Faz parte também da memória pessoal de Aroaldo a conquista da Comissão de Fábrica, resultado de uma luta coletiva da qual ele faz parte. Ele nos diz que seu sonho é estudar filosofia e economia. Diz que está cursando ciências sociais na Fundação Santo André. No ententanto, Aroaldo teme que o estudo de economia possa levá-lo a naturalizar o estranho mundo da economia sob o império neoliberal.


Max tem 30 anos. É um pouco mais velho que Aroaldo, mas entrou na fábrica dois anos depois (em 1995). Max é filho de um sindicalista histórico na base dos metalúrgicos do ABC, chamado "Profeta", que passou por várias fábricas desde 1985 e também faz parte da Comissão de Fábrica. Novamente, a experiência do incentivo paterno para a militância sindical é evidente. Max tornou-se um militante ativo a partir de 2000, sendo eleito para a CIPA em 2004. Ele possui apenas o ensino médio, mas caso fizesse um curso superior, ao contrário de Aroaldo, escolheria psicologia para entender as pessoas.


Max faz uma afirmação curiosa, dizendo que quando era mais jovem, achava que o Sindicato era um departamento da empresa. Talvez essa percepção esteja relacionada à nova lógica da concertação social entre o Sindicato e a Empresa. Com o toyotismo, o Sindicato tornasse de fato, um Departamento da Empresa. Por intuição juvenil, Max percebeu isso.


Max é um metalúrgico roqueiro. Ele montou a banda "Transfixion" de thrash metal. Ele diz (em 2008) que o que realmente quer é a música. Por isso, o maior medo ocorreu quando ele teve um acidente de trabalho na fábrica e temeu perder os dedos e nunca mais tocar guitarra.


Finalmente, o último depoimento é de Maicon, que tem 30 anos e é casado. Maicon entrou na fábrica antes de Aroaldo e Max, em 1992. Enquanto Max tem tatuagens, Maicon usa brincos, o que os diferencia de Aroaldo. Eles falam do preconceito da categoria em relação a homens que usam brincos e são tatuados.


Assim como os outros dois, o pai de Maicon também era metalúrgico. Ele também fez um curso no SENAI, o caminho natural para quem quer entrar na fábrica. Maicon estuda Processamento de Dados, mas tem o desejo de fazer ciências sociais na FSA e fazer um curso de inglês. Ele acha fascinante aprender sobre a mais-valia. Falar sobre cursos de graduação faz parte do sonho de consumo dos metalúrgicos, talvez pelo que a Universidade e um diploma de curso superior representam: ascensão social.


Na fala final, Aroaldo menciona algo interessante: a importância de resgatar um valor que era comum entre os mais antigos, que é a solidariedade, a empatia, colocar-se no lugar do outro. É o valor do companheirismo, valores importantes a serem resgatados em tempos de individualismo e de disputa (Aroaldo não diz como tais valores podem ser resgatados). Aroaldo percebe que vivemos em tempos neoliberais com o espírito do toyotismo sendo disseminado na fábrica: "Você não é um peão, mas um colaborador". A força da ideologia neoliberal e do toyotismo nas fábricas corrompem a consciência de classe dos jovens trabalhadores.


Onde estão Aroaldo, Max e Maicon 15 anos depois desta entrevista?


Todos se integraram na estrutura sindical do SMABC, ascendendo dentro da burocracia sindical dos metalúrgicos da CUT e do PT. Aroaldo, Max e Maicon foram formados como quadros altamente qualificados para a luta sindical dos metalúrgicos da CUT. Eles deram continuidade à linhagem familiar de militantes cutistas da base dos metalúrgicos - e mais além. Conseguiram alçar voo mais elevado do que os dos pais. Como diz o ditado, "Filho de peixe, peixinho é".


Em 2008, Max ainda estava na Transfixion. Mas logo depois, ele abandonaria a banda que ficaria desativada até 2016 quando voltaria a atuar com outros conponentes. Angelo Máximo Pinho é hoje, diretor executivo do SMABC. A Transfixion e o sonho de ser músico profissional pertencem ao passado. A militancia sindical e política dos metalurgicos da CUT e do PT falaram mais alto. Hoje, Max é secretário-geral da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT.


Maicon - ou Maicon Michel Vasconcelos da Silva - também foi aproveitado com seus talentos na luta sindical dos metalúrgicos da CUT no ABC. É hoje secretário de Relações Internacionais da CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT), Na verdade, em 2008 ele já se preparava para isto ao almejar fazer curso de inglês...Fez inglês e ciencias sociais, tornando-se um quadro importante do sindicalismo metalúrgico.


Finalmente, Aroaldo Oliveira da Silva fez um voo para além do sindicalismo, inserindo-se na política da concertação social do PT e da CUT. É hoje presidente da Agência de Desenvolvimento Grande ABC. Diz uma reportagem de jornal: “Conforme a escolha dos associados, Aroaldo Oliveira da Silva, Diretor Executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e presidente da IndustriALL Brasil, foi reconduzido ao cargo de presidente do Conselho Diretor e comandará a Agência por mais dois anos. Evenson Robles Dotto, vice-presidente de Administração e Finanças da ACISA (Associação Comercial e Industrial de Santo André), passa a assumir a vice-presidência.” No currículo vitae, Aroaldo foi Secretário-Geral (2017), vice-presidente do Sindicato, coordenador do CSE na Mercedes, integrante do CSE na Mercedes, membro do Comitê Mundial e coordenador da Comissão da Juventude Metalúrgica.





 
 
 

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